Ex-ministro irritou senadores, que contestaram suas declarações com documentos
Após cerca de 14 horas de depoimento, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello evitou responsabilizar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pela crise sanitária do país na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia. Em dois dias de oitiva, o general culpou governadores pelo colapso nos sistemas de saúde, e assumiu que foi uma decisão própria não assinar o contrato com a Pfizer no ano passado para a aquisição de vacinas.
Mesmo com o habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para ficar em silêncio, Pazuello respondeu a todas as perguntas dos senadores. No entanto, parlamentares acusam o ex-ministro de ter mentido e de não ter colaborado com a investigação. O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que contabilizou ao menos 14 declarações controversas do general.
Nesta 5ª feira (20.mai), após ser questionado sobre o desabastecimento de oxigênio no Amazonas, Pazuello disse que a empresa White Martins, principal fornecedora, não indicou baixo estoque e que a Secretaria de Saúde do estado não acompanhou a situação de perto. Em nenhum momento o ex-ministro admitiu ter responsabilidade sobre a crise amazonense.
“A White Martins já vinha consumindo reserva estratégica e não fez essa posição de forma clara desde o início. Não tem como isentarmos essa posição, primeira responsabilidade. E se a Secretaria de Saúde tivesse acompanhado de perto, teria descoberto que estava sendo consumida a reserva estratégica. Vejo duas responsabilidades muito claras, começa na empresa que consome e não se posiciona de forma clara”, disse.
De acordo com o ex-ministro, foi Bolsonaro que decidiu não intervir em Manaus, mesmo após apelo de autoridades locais. A decisão ocorreu em uma reunião ministerial com o governador do estado, informou Pazuello. “Foi levado à reunião de ministros com o presidente. E o governador, presente, se explicou, apresentou suas observações. E foi decidido pela não intervenção. Foi dessa forma que aconteceu”, completou.
Primeiro dia de depoimento
Na 4ª feira (19.mai), em uma sessão conturbada, o ex-ministro afirmou que o estoque de oxigênio hospitalar em Manaus ficou negativo por apenas três dias em janeiro deste ano. A declaração causou revolta nos senadores, e o líder do MDB na Casa, Eduardo Braga (AM), alegou que foram ao menos 20 dias de colapso no sistema de saúde. “É só ver o número de mortos. É só ver o desespero”, pontuou o senador.
Questionado sobre a plataforma TrateCov, lançada durante sua gestão no Ministério da Saúde, o general atribuiu à secretária de Gestão do Trabalho da pasta, Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”, a idealização do aplicativo. Segundo o general, a ferramenta foi desenvolvida para diagnosticar pacientes com covid-19. O tema voltou a ser discutido nesta 5ª feira e, segundo o ministro, o aplicativo teria sido invadido e logo depois tirado do ar.
“A secretária Mayra, trouxe como sugestão, quando voltou de Manaus dia 6, que poderia utilizar uma plataforma, já desenvolvida para isso, para facilitar o diagnóstico clínico feito pelo médico, e que iria iniciar esse trabalho para fechar a plataforma”, disse.
Vacinas da Pfizer
Pazuello negou também que tenha ignorado ao menos cinco ofertas da Pfizer em 2020 e disse que assinou, em dezembro do ano passado, o memorando de entendimento da farmacêutica sem a autorização de órgãos de controle, como a Advocacia-Geral da União (AGU), a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU).
No entanto, o TCU disse, em nota, que em “nenhum momento seus ministros se posicionaram de forma contrária à contratação da empresa Pfizer para o fornecimento de vacinas contra a covid, e tampouco o tribunal desaconselhou a imediata contratação em razão de eventuais cláusulas contratuais”. Após confrontado, Pazuello admitiu que teria se confundido em relação ao TCU.