Home / Noticias / Guerra na Rússia pode elevar o preço do gás natural em até 44%

Guerra na Rússia pode elevar o preço do gás natural em até 44%

08/03/2022- 12h19

Além do conflito, o posicionamento da Petrobras e as condições de contrato podem influenciar no aumento dos valores

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A competitividade do gás natural para Mato Grosso do Sul deve passar por um novo obstáculo, surgido, em parte, por conta do conflito no Leste Europeu, com o ataque da Rússia contra a Ucrânia.

Uma escalada no preço de fornecimento está prevista para ocorrer por causa do cenário mundial. No Estado, a majoração pode ser de 44%.

Atualmente, 27 indústrias, em Campo Grande e Três Lagoas, recebem gás natural no Estado. Ainda há expectativa de ampliação para a região de Sidrolândia e de Corumbá.

Essa medida gera impacto prejudicial porque, mesmo com a proximidade com o grande fornecedor, que é a Bolívia, o Estado ainda não consegue garantir um valor mais atraente do que outros mercados nacionais.

O valor praticado aqui é o nono mais caro (ou o 10º mais barato) do País, em uma lista com 18 fornecedores.

Analistas do setor apontam que os aumentos no mercado internacional influenciam a realidade local.

A Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) vai divulgar, nesta semana, dados ligados ao preço do gás natural a partir da análise do mercado nesse período de turbulência.

A previsão é de que haja reajuste a qualquer momento. A porcentagem é ainda incerta.

A Petrobras, que nacionaliza o gás boliviano e faz a distribuição para a Companhia de Gás do Estado de Mato Grosso do Sul (MSGás) entregar no Estado, já apontou a necessidade de reajuste de até 50%.

A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) reconheceu que os aumentos foram tratados, inclusive, antes de o conflito ter começado.

Distribuidoras e Petrobras discutiram o tema em dezembro do ano passado. Esses novos valores devem afetar 70% da demanda do mercado cativo e não termoelétrico.

O indicativo para este ano é de que o novo valor da molécula deve passar para US$ 12 por MMBtu, porém, não está ainda definido como o preço no mercado mundial deve agora afetar esse acordo que já existia.

“Esse reajuste é decorrente das novas condições comerciais apresentadas pela Petrobras, o único ofertante com portfólio suficiente para atender as distribuidoras de gás canalizado, que, sem opções, serão obrigadas a firmar contratos nessas bases, impedindo que os consumidores tenham seu abastecimento prejudicado”, aponta a Abegás, em nota.

ABERTURA DO MERCADO

O País já tem marco regulatório que permite surgir competidores com a Petrobras para que haja disputa comercial para um menor preço da molécula, porém, na prática, o mercado ainda não se adaptou para esse cenário com mais fornecedores.

Falta também mais proximidade com a Bolívia para que haja novos contratos, e o país vizinho encara dificuldades para aumentar a demanda de exportação para o Brasil por falta de investimento que permita a ampliação de fornecimento.

Para Mato Grosso do Sul, bem como para o Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e parte de São Paulo, a previsão de majoração é de 44% sobre o valor dos contratos de fornecimento.

No mercado mundial, o conflito entre dois grandes fornecedores de gás natural para a Europa, com destaque para a Rússia, elevou o preço da commodity para um patamar histórico. Na primeira semana deste mês, o aumento foi de 5,53%, mas ainda há muita volatilidade, em razão dos acontecimentos repentinos causados pela situação que a guerra faz surgir com o passar dos dias.

A Rússia é o terceiro maior produtor mundial de gás natural e, por conta de sanções que o país enfrenta, além do risco de falta de suprimento, criou-se um novo patamar de preço.

Em menor quantidade, a Ucrânia exporta gás natural para indústrias de Campo Grande complementarem demanda que o gasoduto Bolívia-Brasil não atende.

A agência internacional Independent Commodity Intelligence Services indicou que os valores do gás natural já estavam sendo pressionados porque houve retomada industrial após o cenário mais crítico da pandemia de Covid-19.

Na França, o aumento chegou a 149%, e na Alemanha, a 119%, em período pré-conflito. Na comparação, porcentagens menores do que as que podem ocorrer localmente, em que a previsão é de aumento de 44%.

No Brasil, os impactos já chegaram. A Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa) autorizou aumento que varia de 2% a 13% no gás canalizado.

O estado do Rio de Janeiro estava com o oitavo preço mais barato do produto entre os 18 fornecedores. O reajuste foi justificado porque o custo de aquisição da commodity fornecida pela Petrobras sofreu majoração.

O estudo de mercado da Abrace está avaliando diversos cenários, e o indicativo para aumento de forma nacional está embasado no fato de os contratos com a Petrobras ainda terem valores definidos com base na cotação do petróleo Brent.

Esse produto é extraído no Mar do Norte e comercializado na Bolsa de Londres. A cotação dele é referência também para os mercados europeu e asiático.

FORNECIMENTO

O fornecimento da MSGás segue esse padrão de negociação. Como a Petrobras está sinalizando reajuste, o impacto só não seria repassado ao mercado local caso a estatal sul-mato-grossense absorvesse esse novo valor.

A companhia não se posicionou oficialmente com relação ao aumento, mas reconheceu que o cenário é de instabilidade para preços.

“A MSGás acompanha com preocupação a guerra entre Rússia e Ucrânia, torcendo por um desfecho pacífico e diplomático. Por ora, não há indicativos de alteração no suprimento ou no preço. Como a distribuição do gás natural consumido por Mato Grosso do Sul é oriunda do Gasbol, a companhia segue atenta aos possíveis efeitos desse conflito”, informou ao Correio do Estado, em nota.

Na Bolívia, a Agência Nacional de Hidrocarbonetos (ANH) não divulgou que pode alterar seu contrato de preço com a Petrobras. O país ainda enfrenta dificuldades para atender toda a demanda que pode ser contratada.

O gasoduto Bolívia-Brasil, que corta MS, pode transportar 30 milhões de m³ por dia, mas o atual fornecimento está em cerca de 20 milhões de m³.

O restante da capacidade pode ser negociado diretamente entre a Bolívia e a MSGás, por exemplo, mas o país vizinho só deve ter condições de ampliar seu fornecimento a partir de 2024.

30 milhões de m³

Capacidade do Gasbol é de transportar diariamente 30 milhões de metros cúbicos de gás natural. No entanto, a Bolívia não tem volume para fornecer esse total. Atualmente, passam 20 milhões de m³ por dia.

Fonte: Correio do Estado